1 de Julho 2020

Generosa é a flor do castanheiro

E se o seu vinho levasse flor de castanheiro?

Se a pergunta lhe soa familiar confirmamos que foi inspirada numa campanha publicitária de há uns bons anos. A resposta, neste caso, só pode ser uma – isso é inovação, com a chancela do Centro de Investigação de Montanha (CIMO) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Foi ali que nasceu o ChestWine, projecto que utiliza a flor de castanheiro (Castanea Sativa) como conservante natural para o vinho. Isento de toxicidade, constitui uma alternativa aos sulfitos habituais. O resultado é um vinho biodinâmico, diferenciado, seguro e portador de propriedades bioactivas. Mas, nada melhor do que a Investigadora Lillian Barros, uma das fundadoras do ChestWine, para explicar como é verdadeiramente diferenciador: “Este ingrediente diferencia-se dos restantes já existentes no mercado, pois, além de ser natural e seguro, aumenta a cadeia de valor e de economia circular de uma outra produção de grande expressão em território nacional, a produção de castanha.”

O potencial foi já reconhecido pelo Prémio Empreendedorismo e Inovação CA 2019, em que se sagrou vencedor na categoria Produção, Transformação e Comercialização. Mas também nos BfK Awards, uma iniciativa do programa Born From Knowledge, que, na esfera da Agência Nacional de Inovação, se propõe valorizar o conhecimento científico e tecnológico. O ChestWine é, reconhecidamente, um projecto “nascido do conhecimento” e do trabalho de investigação de uma equipa que teve como mentora a Professora Isabel Ferreira, actual Secretária de Estado da Valorização do Interior e então coordenadora do CIMO. Além da investigadora Lillian Barros, esta equipa integra também Sandrina Heleno, investigadora na mesma instituição; o Professor Albino Bento, director do Centro Nacional de Competências de Frutos Secos; e o professor Fernando Magalhães Pinto Paiva, produtor de vinhos biodinâmicos da Quinta da Palmirinha. Este produtor foi o primeiro interessado em experimentar a capacidade conservante do novo ingrediente.

E é precisamente na fase de testes, em vinhos de zonas distintas do País, que se encontra o ChestWine, de forma a garantir a sua capacidade conservante e assim obter a sua legalização e licença comercial, a emitir pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), sendo que, paralelamente, decorre o processo de constituição de uma startup, que se dedicará à exploração do produto. Neste intervalo, foi já dado outro passo decisivo: o do registo de patente, por forma a protegê-lo, nacional e internacionalmente. A rápida expansão e a exportação estão, assumidamente, no horizonte desta equipa.

Antes de projectar o futuro, recuemos, porém, à génese. Lillian Barros recorda que a semente começou a ser lançada à terra após contactos da indústria vinícola, movida pelo interesse em deixar de utilizar sulfitos devido à toxicidade inerente. Os investigadores de Bragança entraram, então, em campo, primeiro para identificar a melhor matriz para o efeito desejado. “Décadas de estudo em termos de caracterização e bioactividade de centenas de matrizes naturais” permitiram seleccionar a flor de castanheiro como “a mais promissora em termos de actividade antioxidante e antimicrobiana, dois requisitos essenciais para o desenvolvimento de um conservante”.

De seguida, era importante avaliar a sua estabilidade, isto é, saber se manteria as suas propriedades químicas e bioactivas em condições de armazenamento, por exemplo. Confirmado este requisito, foi preciso estabelecer a dose activa ideal para posterior incorporação no vinho, passo que foi primeiramente efectuado em vinho verde, com monitorização ao longo do tempo, nomeadamente ao nível das propriedades organoléticas e sensoriais. Todos estes passos foram conseguidos com sucesso. E o ChestWine aí está, quase pronto para comercialização e para proporcionar aos consumidores uma experiência inovadora e eficaz. Sobre as vantagens, Lillian Barros já tinha mencionado o facto de ser um conservante natural.

Mas há mais, e todas elas assentam no pilar da sustentabilidade. Desde logo, económica, na medida em que se aproveita um resíduo biológico, “sem qualquer interesse económico, dando origem a um produto final de valor acrescentado”. Soma-lhe um benefício a nível da saúde, dado que as flores de castanheiro têm propriedades bioactivas, tornando os alimentos e bebidas em que são incorporadas em produtos funcionais. E finaliza com uma mais-valia ambiental, dado que, para a obtenção do vinho com este conservante, as flores masculinas são colhidas manualmente em soutos, após o processo de fecundação, sem prejuízo da formação do fruto. “Assim, obtemos um vinho natural através de um processo completamente biológico sem adição de um aditivo artificial, diminuindo o impacto ambiental da produção de vinho”, sublinha. Faça-se, pois, um brinde à inovação, com Lillian Barros a realçar a importância de inovar nos diferentes sectores industriais, para ir ao encontro dos consumidores cada vez mais exigentes e atentos. Só falta provar…