1 de Janeiro 2019

Cortiça com Nobreza de Carácter

Que Portugal é um país que dá cartas no sector da cortiça a nível mundial, resulta claro, óbvio, indiscutível. Também é público e notório o leque restrito de grandes players que dominam os mercados mundiais. Mas quando se trata de assinalar e aplaudir o desempenho notável de pequenas empresas portuguesas que estão no bom caminho para se converterem em marcas emergentes, apostadas em consolidar uma caminhada de sucesso iniciada num passado muito recente e que, a partir daí, espreitam as oportunidades que se perfilam no plano de mercados externos, temos de ir ao Alentejo falar com Luís Correia, 35 anos.

Luís e Maria João, marido e mulher, são os sócios desta empresa instalada na Azaruja, a dois passos de Évora. Luís é homónimo do seu avô materno, que sempre trabalhou nas artes e ofícios da cortiça. Pois é. O avô Luís haveria de orgulhar-se daquilo que hoje representa a empresa e a marca que ostenta o seu apelido. Correia Cork*. Convém explicar que Azaruja, também conhecida por São Bento do Mato e que, corria o final do século XIX, só fugazmente seria chamada de Vila Nova do Princípie (apenas até à implantação da República, é bom de ver...), por ali ser senhor de terras nobres o Conde de Azarujinha, estas paragens alentejanas, dizíamos nós, têm todo um histórico relevante ligado à fileira da cortiça, muito por obra e graça de industriais catalães que aqui assentaram arraiais na viragem para o século XX. Não por acaso, escolheram estas terras. Assim sucedeu por nelas logo identificarem a alta cotação dos montados de sobreiro que evoluem e relevam nesta geografia.

Tudo isto, todos estes episódios, todos estes factos, todas estas figuras – o avô Luís, à cabeça, é claro – haveriam de ter importância-chave no nascimento da Correia Cork. Nove pessoas, entre as quais o administrador executivo, Luís Correia, que olha, considera e valoriza os seus oito Colaboradores exactamente como seus pares. “Somos, na verdadeira e genuína acepção da palavra, uma família. Cada um de nós sabe, com uma precisão de ourives, o que temos de fazer, sem precisarmos de falar uns com os outros, seja qual for a área de competência – o processo de cozedura, a separação da cortiça, a sua classificação e a preparação final das paletes de acordo com os diferentes calibres”. A Correia Cork nasceu em 2003 e, a partir de 2012, o crescimento foi sempre imparável. Nessa altura, a empresa adquiriu uma fábrica local que estava desactivada havia algum tempo, e a partir daí começou a cozer a cortiça. “Foi um grande passo em frente, uma vez que até aí todo o processo em que intervínhamos era em cru, limitando-nos à extracção da cortiça no montado e à sua separação conforme as tipologias e qualidades”. Resulta daí que, através da cozedura, a cortiça é hoje comercializada com padrões de qualidade muito mais aperfeiçoados, o que constitui um dado acrescido nos argumentos de venda da Correia Cork.

Com taxas de crescimento absolutamente impressionantes – em 2018 trabalharam cerca de 110 mil arrobas de cortiça, praticamente o dobro da campanha precedente – a empresa pretende agora consolidar o seu desempenho e sustentar adequadamente o processo de internacionalização. “Chegados aqui, a exposição exclusiva ao mercado português poderia comprometer o futuro da nossa organização. E, não deixando de reconhecer o lugar que nos cabe no contexto da indústria portuguesa e mundial, a estratégia que definimos passa pela diferenciação, apontando a nichos de mercado onde podemos ser felizes, ainda não com a produção da rolha de cortiça, mas tendo por suporte a matéria-prima já cozida e classificada, não sendo de descurar, é certo, eventuais parcerias locais que nos levem a intervir também no acabamento do produto”. Não por acaso, não sem razão a Correia Cork está certificada pelo Código Internacional de Práticas Rolheiras (CIPR), sendo a única empresa em Portugal, na sua área, com a certificação ISO 9001:2015, em observância das normas deste sistema de gestão de qualidade (SGQ) reconhecido internacionalmente.

Tudo isto haveria de orgulhar – e muito – o avô Luís Correia. Sendo certo que nos tempos que correm, já muito honra Portugal e a nossa economia.

 

*Cliente do CA do Alentejo Central