1 de Abril 2019

Apetece-me Morangos...

Quando Portugal observa e avalia com adequada ponderação a sua escala face a outros mercados cujo potencial competitivo numa infinidade de produtos é bem superior quantitativamente falando, quase sempre o mais avisado é deixar esse tabuleiro para competidores com idênticos argumentos. Simplificando, temos quase sempre a ganhar quando o nosso argumentário afina pela qualidade e não tanto pela quantidade. Dito isto, sucedem-se os bons exemplos da competitividade portuguesa dirigida a mercados – a começar pelo próprio mercado interno – ávidos de produtos de superior qualidade, percepcionada e tangível pelo consumidor em todos os critérios que fazem da lealdade ao produto o mais importante de todas as coisas. Tudo isto nos levou à Ericeira para conhecer a Seaberry. E o que dissemos na introdução do texto aqui bate certo, faz sentido, ganha claridade absoluta.

Álvaro e Gonçalo Assis Lopes, pai e filho, respectivamente engenheiro químico e arquitecto, decidiram que este é o tempo de investir num novo projecto de vida, tendo por suporte a actividade agrícola. Apostaram no morango. E a tecnologia adoptada é a semi-hidroponia, em razão da eficiência, da eficácia e da boa gestão de recursos. Pequeno parêntesis para enquadrar a fileira do morango em Portugal: a produção nacional situa-se nas 9,5 mil toneladas anuais (dados reportados a 2017), as exportações estão na casa das 4,5 mil toneladas, enquanto as importações ultrapassam as 16 mil toneladas e o consumo dos portugueses ultrapassa já as 20 mil toneladas. Este desequilíbrio evidente da nossa balança comercial foi determinante para a aposta da família Assis Lopes.

"O tomate chegou a estar em equação, até porque a tecnologia de que dispomos é extremamente versátil, mas o grande défice de produção de morango em Portugal justifica definitivamente a nossa escolha", sublinha Álvaro Assis Lopes. A ideia da Seaberry começou a germinar em 2015, sendo que a empresa viria a nascer em Junho de 2017. Estamos perante um projecto de capitais próprios, parcialmente financiado ao abrigo do PDR 2020 e que, desde a primeira hora, conta com a parceria do Crédito Agrícola*. "Somos muito reconhecidos a este Banco, que a cada dia que passa nos demonstra que os projectos não se reduzem a números, têm alma, convicções, gente que trabalha em todas as áreas de competência para sermos bem-sucedidos – e isso está bem presente na nossa relação com o CA", revela Gonçalo Assis Lopes.

Num ano de cruzeiro e numa perspectiva realista e (talvez) conservadora, os responsáveis da Seaberry apontam para uma produção estimada em 165 toneladas de morango. Mas, num horizonte a dois anos, não descartam a possibilidade de chegar às 180 toneladas. Seja como for, o posicionamento da empresa coloca-a no patamar da oferta gourmet, tendo como parceiro de distribuição o agregador de produtores Frutalmente, que três vezes por semana vem buscar as paletes de morango à Seaberry. A área ocupada pela estufa instalada na Ericeira é de um hectare – imaginemos um campo de futebol – mas graças à metodologia de produção em suporte hidropónico o potencial é equivalente a seis hectares. No lugar onde releva a estufa, o contorno é campo aberto para o mar infinito no horizonte. "Não escolhemos esta localização por acaso. Temos uma relação muito próxima com a região que vem de várias gerações e, do ponto de vista técnico, estarmos aqui dá-nos as melhores condições para produzir o ano inteiro, o que acaba por ser excepcional face a outras regiões que se dedicam à mesma fileira em Portugal", explica-nos Gonçalo Assis Lopes.

Antes do ponto final na reportagem, não saímos da Seaberry de mãos a abanar... Connosco vem um cesto de morangos garbosos no seu vermelho intenso, exalando perfume a fruta saborosa e autêntica. Essa autenticidade portuguesa que o mundo tanto aprecia e, cada vez mais, procura.


*Cliente do CA de Loures, Sintra e Litoral