Tudo na vida tem a sua ciência. Até o modo expedito e eficaz de detectar a mastite bovina, uma patologia que muito prejudica a produção leiteira. A solução, inovadora e revolucionária, está no Pocket-Vet, um mini-laboratório de bolso desenvolvido com base em tecnologia patenteada pelo INESC TEC. Através de inteligência artificial e espectroscopia, basta uma gota para medir parâmetros no leite e no sangue, monitorizando, no próprio local e em tempo real, a saúde animal. Vamos conhecer o vencedor da 11.ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, na categoria de Segurança Alimentar e Nutricional.

 

A composição do leite e o hemograma são críticos para a deteçcão precoce de estados inflamatórios e inícios de infecção que possam derivar em mastite bovina, a principal patologia recorrente causada por microorganismos em explorações leiteiras. Existem 20 milhões de bovinos de leite na Europa, num total de mais de 500.000 explorações; e apesar de normas apertadas de higiene e bem-estar animal, a mastite bovina é o problema que mais prejuízos impõe à produção e qualidade do leite, uma preocupação recorrente a nível mundial.

É neste cenário que emerge o Pocket-Vet. Um projecto de investigação que “marca o início de uma nova era no point-of-care veterinário, um passo em frente na promoção do bem-estar animal e da segurança alimentar, permitindo intervenções oportunas e aumentando a eficiência produtiva, a qualidade do leite e a sustentabilidade do sector”, faz notar Marta Vranas, gestora de propriedade intelectual no Serviço de Apoio ao Licenciamento do INESC TEC.

O Pocket-Vet incorpora muitos dos desenvolvimentos dos projectos de investigação em agricultura, indústria, medicina e medicina veterinária efectuados ao longo dos anos e de conhecimento intangível. E porque a inovação não se mede aos palmos, é caso para dizer que esta solução de bolso representa um passo gigante para a pecuária de precisão, ao revolucionar, com uma simplicidade e fiabilidade surpreendentes, o despiste precoce de mastites, reduzindo assim perdas produtivas e o uso de antibióticos.

Actualmente, o projecto encontra-se em fase de testes no terreno (leia-se explorações leiteiras), para avaliar, afinar e optimizar, em conjunto com médicos veterinários, as funcionalidades do Pocket-Vet e, a partir daí, desenhar o produto final. “Estamos a escalar os casos de estudo para que sirvam de exemplo de aplicabilidade e forma de uso eficiente da nova ferramenta, tendo em conta a grande diversidade de condições que existem nas explorações leiteiras”, explica Rui Costa Martins, investigador do INESC TEC, que lidera os trabalhos científicos e de desenvolvimento.

Paralelamente, está em curso a transferência do projecto para a comunidade, aproveitando as parcerias já estabelecidas em medicina veterinária. “Recebemos muitas manifestações de interesse de médicos que desejam participar nesta fase de transição, e estamos a trabalhar para que seja possível acomodar o máximo de profissionais interessados nesta recta final de desenvolvimento, com incidência nas regiões do Minho, Douro Litoral, Trás-os-Montes e Açores”, sublinha a equipa de investigação.

Num horizonte próximo, antevê-se o fabrico e a comercialização do Pocket-Vet. Entretanto, é tempo de captação de investimento e de parcerias para a implementação da infra-estrutura empresarial e produtiva, incluindo um primeiro esboço de rede comercial que contemple Portugal e o mundo. Rui Costa Martins antecipa, desde já, a aposta numa empresa de deep tech em instrumentação inteligente para a área da saúde humana e animal baseada no conhecimento gerado pela investigação.

DIFERENTES SABERES
TODOS DE PARABÉNS

Os sistemas incorporados no Pocket-Vet foram desenvolvidos nos laboratórios do Centro de Robótica Industrial de Sistemas Inteligentes e TRIBE Lab do INESC TEC, em parceria com o Laboratório de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS-UP) e em cooperação com médicos veterinários especialistas da SVAExpLeite e da Segalab – Laboratório de Sanidade Animal e Segurança Alimentar, assim como membros da Associação Portuguesa de Buiatria e produtores de leite associados ao estudo. Todos estão de parabéns pela conquista do Prémio Empreendedorismo e Inovação do Crédito Agrícola, na categoria de Segurança Alimentar e Nutricional. Em nome de todos, Marta Vranas assinala que “esta distinção atesta a qualidade do trabalho que temos desenvolvido na área das tecnologias point-of-care baseadas em espectroscopia para medicina humana, veterinária e agricultura de precisão. E premeia a participação voluntária de utilizadores no processo de desenvolvimento, desde logo médicos veterinários e produtores de leite, destacando a importância da co-participação da sociedade na ciência, essencial para que a deep tech tenha um impacto real e directo no nosso quotidiano”. O CA reconhece e o futuro agradece.