31 de Agosto 2025

O bem que nos faz a bolota

Portugal produz anualmente cerca de 400 mil toneladas de bolota. Mas apenas 1% tem como destino o consumo humano. Valorizar este recurso agroalimentar de grande potencial numa dieta mediterrânica saudável e sustentável é o propósito do projecto OakFood, distinguido com a Menção Honrosa – Inovação em Parceria, na 11.ª edição do Prémio de Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola.

Pelos extensos montados ou bosques de sobreiro, azinheira e carvalho, somos um país especialmente generoso em bolota. Basta, por comparação, dar o exemplo da fileira da castanha, cuja produção anual se situa, em média, entre as 35 e as 45 mil toneladas. Das diferentes variedades de bolota, há duas que a European Food Safety Authority (EFSA) valida como alimento autorizado para consumo humano e suplemento alimentar: a de azinheira (Quercus rotundifolia) e a de carvalho alvarinho (Quercus robur). É neste cenário de horizonte promissor que a Food4Sustainability CoLAB (F4S), entidade promotora do OakFood, sediada em Idanha-a-Nova, se lançou em 2023. “O projecto vem induzir, a níveis sem precedentes, a confiança dos consumidores no consumo de bolota e seus derivados, tudo produtos de alto valor nutricional, com características organolépticas atractivas aliadas à sustentabilidade da sua produção”, faz notar Sílvia Moreira, especialista em valorização de subprodutos e gestora de projectos da F4S.

A bolota tem muito que se lhe diga – e pelas melhores razões. Alimento rico em termos nutricionais, distingue-se pelo elevado teor em hidratos de carbono, fibras, amido resistente, proteína, ácidos gordos não saturados (perfil semelhante ao azeite) e vitaminas (sobretudo A e E). Este é um produto sedutor em várias latitudes do consumo, que tanto pisca o olho a celíacos (não contém glúten) como a desportistas (alto teor em potássio e fósforo). Já os compostos fenólicos (taninos e flavonoides) são argumento acrescido a convocar a atenção dos investigadores, dado o potencial antioxidante, anticarcinogénico e antienvelhecimento.

Sílvia Moreira explica que “a farinha de bolota é um interessante substituto da farinha de trigo em diversas formulações, dando origem a produtos inovadores de origem nacional através da valorização directa da parte comestível (miolo) e indirecta dos seus subprodutos (casca)”.

O OakFood incentiva a implementação e optimização de práticas e metodologias de produção e processamento de bolota para consumo humano. Nos últimos dois anos, o projecto permitiu desenvolver um mapa detalhado dos produtores portugueses que desenha uma verdadeira fileira da bolota. “Em paralelo, os nossos parceiros têm realizado acções de capacitação junto dos produtores, centradas no tema da colheita e nos requisitos da indústria alimentar para consumo humano que se colocam à bolota”, sublinha Sílvia Moreira, assinalando ainda, entre as acções promovidas, o evento de apresentação do Guia de Apoio a Produtores.

A bolota está a fazer o seu caminho. Com a F4S como entidade promotora e coordenadora de um grande projecto português no cenário agroalimentar, agregando diferentes competências, parceiros e marcas: LandraTech, Centro de Biotecnologia e Química Fina – Universidade Católica Portuguesa, AgroGrIN Tech, Equanto, Purenut (Biomit), Pepe Aromas, Javalimágico, Francesco Montanari (Arcadia International), Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos e Confederação Nacional da Agricultura e Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, com o apoio nacional da Casa Mendes Gonçalves e transnacional da empresa espanhola BlendHub.

Valorizar os sectores agrícola, florestal e alimentar nos territórios abrangidos, pela associação da riqueza de recursos naturais à criação de valor económico e de emprego, num contexto de coesão territorial e desenvolvimento de comunidades rurais do Interior do país. Tudo isto é razão de ser do projecto, sendo de frisar ainda o contributo do OakFood para as metas da Agenda Terra Futuro, programa financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O que significa incrementar a adesão à dieta mediterrânica, acrescentar valor à produção agroalimentar e à área agrícola em regimes de produção sustentável, numa dinâmica que fixa um desafio maior: instalar jovens agricultores em territórios de baixa densidade.

Voltando à 11.ª edição do Prémio de Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola, é fácil perceber o porquê da Menção Honrosa. Só falta apurar o seu significado: “Ao dar visibilidade ao OakFood, vem certamente ampliar a sua notoriedade”, assinala Sílvia Moreira, “além do reconhecimento do trabalho de todos os parceiros que integram este consórcio completo e complementar, juntos na concretização dos objectivos de valorização da bolota enquanto produto endógeno português”. Parabéns!