Especial Cooperativismo

Idalino Leão e Eduardo Graça

"Cooperar é preciso"

Especial Cooperativismo

Idalino Leão e Eduardo Graça

"Cooperar é preciso"

A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas.
O tema que sintetiza e justifica esta consagração diz tudo: “Cooperativas constroem um mundo melhor”. O Crédito Agrícola, único Grupo Financeiro Cooperativo português, saúda a iniciativa da ONU e faz questão de celebrar este ano tão significativo.


As Nações Unidas sublinham o “impacto global duradouro das cooperativas, posicionando-as como soluções essenciais para os desafios globais de hoje”, além de “principais impulsionadores para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030”. É destacado, igualmente, o papel vital das cooperativas no avanço do desenvolvimento sustentável, na erradicação da pobreza e no fomento do crescimento económico inclusivo”.
O Crédito Agrícola convidou duas instituições de referência para connosco reflectirem, neste número da CA Revista, sobre a importância-chave do cooperativismo. Têm a palavra o presidente da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI) e o presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES).



A OPINIÃO DE IDALINO LEÃO
Presidente do Conselho de Administração da CONFAGRI - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal


Compromisso com o Futuro

Neste ano de 2025, em que se comemora o Ano Internacional das Cooperativas, destaca-se o papel vital que as cooperativas desempenham como alicerces para construir um mundo melhor e o impacto global e duradouro da sua actuação posicionando-as como soluções essenciais para os desafios globais de hoje.

Os tempos de celebração convidam a uma reflexão única e premente sobre o papel cada vez mais fundamental das cooperativas, que se reinventam face aos crescentes desafios enfrentados pelos mercados. Que dúvidas não subsistam quanto ao papel crucial que as cooperativas desempenham no desenvolvimento económico e social do país.

O Crédito Agrícola destaca-se como um exemplo da força do modelo cooperativo, sustentando-se nos seus pilares fundamentais: proximidade, confiança, conhecimento e presença.

Singular na sua essência enquanto banco cooperativo, o seu sucesso ultrapassa indicadores económico-financeiros e reside na capacidade de colocar as pessoas no centro do seu âmbito de actuação. O envolvimento e a genuína preocupação com os seus associados e, naturalmente, com as comunidades envolventes, cimentam laços duradouros entre todos os intervenientes, fazendo ressaltar o sentimento de pertença e confiança de que todos contam. E o sucesso torna-se uma sequência natural desta equação.

Esta instituição personifica uma das características mais marcantes do sector cooperativo: a capacidade de estar presente no dia-a-dia dos seus associados.

Substituindo-se muitas das vezes ao Estado, nas suas múltiplas valências, sobretudo nas áreas rurais, frequentemente negligenciadas pelos grandes conglomerados financeiros, sendo por vezes a única alternativa acessível.

Proximidade esta que não se limita à geografia, mas que também está presente nos seus produtos e serviços adaptados às necessidades específicas de cada região. A partilha de valores e objectivos comuns e uma base sustentada no trabalho, na credibilidade e na confiança reforçam ainda mais este modelo.

Esta base assenta na confiança construída ao longo de décadas de trabalho conjunto.

As cooperativas tornam-se essência das comunidades onde estão inseridas, fazem parte da sua história, da sua identidade intrínseca e do imaginário colectivo. São instituições que crescem com as comunidades, enfrentam desafios lado a lado e celebram as vitórias em conjunto.

Cooperativas como o Crédito Agrícola conhecem as dinâmicas locais, os seus intervenientes, todos os elos da cadeia, permitindo-lhes oferecer soluções adequadas às necessidades específicas de cada região, de cada associado. Este conhecimento faz-se da relação, da proximidade construída ao longo dos anos e do acompanhamento contínuo das necessidades reais e diárias.

Nas crises económicas, pandemias ou catástrofes naturais, nestes momentos de crise em que todos somos chamados a assumir o nosso papel em prol da comunidade, as cooperativas têm dado provas não só da sua importância, como da sua eficácia face aos desafios.

Enquanto assistimos ao desmoronar e afastamento de tantas instituições, as cooperativas permanecem firmes, cumprindo o seu papel de suporte às populações. Esta presença tão constante relembra-nos que o cariz cooperativo nunca deve ser perdido, pois é precisamente nos tempos mais difíceis que este modelo demonstra toda a sua eficiência.

O cooperativismo assume-se cada vez mais como uma resposta concreta aos desafios do nosso tempo. Perante um panorama actual marcado por desigualdades e incertezas, o modelo cooperativo oferece uma visão centrada nas pessoas, na sustentabilidade e no desenvolvimento inclusivo. Importa modernizar e integrar boas práticas num modelo de desenvolvimento económico e ambientalmente equilibrado, que conduza de forma inequívoca a benefícios socioeconómicos desejáveis para a produção local, para a valorização das comunidades rurais e para a promoção do equilíbrio territorial. O reforço do cooperativismo é a chave.

O Crédito Agrícola, instituição que facilmente se identifica como símbolo deste modelo em Portugal, desempenha um papel crucial na promoção de uma economia mais justa e equilibrada para todos. Firme na valorização da proximidade, da confiança, do conhecimento e da presença, o cooperativismo assume a sua verdadeira identidade, tornando-se numa escolha viável para todos aqueles que pretendem concretizar os seus objectivos e sentir o reconhecimento do seu esforço.

Aproveitemos este Ano Internacional das Cooperativas enquanto motor para celebrar a singularidade do cooperativismo e reafirmar o compromisso com um futuro onde as pessoas e as comunidades sejam o elo mais fulcral e essencial para toda e qualquer tomada de decisão.

O cooperativismo é mais do que um modelo económico; é uma filosofia de vida. E o Crédito Agrícola, com a sua história e tradição, é prova de que este modelo pode prosperar e fazer a diferença.





A OPINIÃO DE EDUARDO GRAÇA
Presidente do Conselho de Administração da CONFAGRI - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal


“O melhor vinho está ainda por servir”

Em 2025 celebramos o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pelas Nações Unidas, à semelhança de 2012. O nosso contributo para esta celebração é o de soprar o lume que mantém vivo o sonho dos cooperativistas, em Portugal, pelo menos desde 2 de julho de 1867. Nesse dia, passaram 158 anos, foi publicada a lei basilar do cooperativismo português, de Andrade Corvo, a segunda lei cooperativa a nível mundial. Os cooperativistas portugueses de hoje são os herdeiros do espírito dessa lei, que resulta de uma “dinâmica de reconhecimento da liberdade associativa”.

Aqui chegados queria, de forma breve, falar-vos de alguns projetos com incidência no cooperativismo, que temos em mãos no contexto da Economia Social, e que a velocidade atual dos acontecimentos, e da comunicação, pode obscurecer.

Um deles, e o mais prestigiado, em termos nacionais e internacionais, é a Conta Satélite da Economia Social (CSES). Na verdade, a Lei de Bases da Economia Social, de 2013, integra no seu art.º 6.º, n.º 2 a obrigatoriedade da criação e manutenção da CSES: “Deverá ainda ser assegurada a criação e a manutenção de uma conta satélite para a Economia Social, desenvolvida no âmbito do sistema estatístico nacional”. É o que temos vindo a cumprir de forma singular mantendo-nos fiéis, no essencial, ao modelo encetado em 2011.

Trata-se de uma conta satélite de vasto espectro, inovadora, com os riscos inerentes a uma metodologia que se confronta com a necessidade de congregar informação estatística de entidades tão próximas, pelos princípios e valores que encerram e, ao mesmo tempo, tão diversas, nos planos económico e sociológico, nunca estudadas de forma tão vasta e abrangente.


Porque é relevante a questão estatística?

  • A estatística contribui para o conhecimento, e reconhecimento, do sector da economia social consagrado na Constituição da República Portuguesa sob a designação de “sector cooperativo e social”, evidenciando o seu peso relevante na economia e na sociedade portuguesas;
  • A estatística fornece aos poderes públicos, e aos protagonistas do setor, informação credível, e certificada, acerca da realidade do sector, respondendo ao desafio contido, de forma certeira, numa frase que os franceses vulgarizaram: “sans chifres, pas de politique”;
  • A estatística densifica o conceito de Economia Social, aproximando-a da sua realidade operacional, abrindo um espaço para debater o modo e o tempo da confluência de vontades das diversas “famílias” da Economia Social, no respeito pela sua autonomia, assim como às novas necessidades e realidades emergentes no sector.

Não será arriscado afirmar que a CSES é original e única, distinguindo-se de todas as restantes por abarcar, no seu universo de estudo, um perímetro no qual cabem todas as entidades da Economia Social consideradas na LBES, incluindo as cooperativas. Até ao presente foram produzidas, em parceria com o INE, quatro contas satélites com dados dos anos de 2010, 2013, 2016 e 2019/2020.

A conta satélite com dados de 2023 está em produção e os seus resultados serão conhecidos em inícios de 2026 mantendo a cadência anterior, consolidando uma série estatística de inestimável valor para o conhecimento e reconhecimento do setor.

Outro estudo relevante que a CASES produz é designado por “100 Maiores Cooperativas” incluindo, mas separadamente, as 20 maiores cooperativas de Crédito, por volume de negócios, com periodicidade anual. No caso das 100 maiores + 20 maiores de crédito, é notória a maioria de cooperativas do ramo agrícola que integra este ranking confirmando a sua dominância no panorama cooperativo português. No próximo dia 5 de julho, Dia Internacional das Cooperativas, será divulgado o próximo relatório das 100 maiores cooperativas.

A CASES acompanha também, com periocidade mensal, o desenvolvimento do setor cooperativo em números de entidades através do que designamos como demografia cooperativa. Os dados anuais de 2023 e 2024 mostram que o saldo entre cooperativas criadas e extintas aponta para a consolidação de uma trajetória de moderada expansão. Nos últimos dois anos os ramos cooperativos mais dinâmicos são os da cultura, habitação e serviços. Cerca de 30% das cooperativas criadas em 2024, são multissetoriais. Conjugando toda a informação tratada, pode afirmar-se com segurança, que o setor cooperativo apresenta uma dinâmica positiva que permite acreditar na sua persistência e desenvolvimento.

O nosso trabalho sobre o setor cooperativo baseia-se nos dados fornecidos pelas cooperativas no Portal de Credenciação da CASES, que neste momento tem registadas mais de 1800 cooperativas, ou seja, perto de 85% do universo cooperativo e, estamos em crer, a esmagadora maioria das cooperativas em efetiva atividade e a totalidade das cooperativas de crédito que, no nosso país, são as do Crédito Agrícola.

É importante sublinhar o relevante papel que as cooperativas têm na prestação de informação, sendo ainda de realçar que a CASES tem tido, desde a sua constituição, um papel pedagógico e de apoio às cooperativas no cumprimento das suas obrigações legais, e nunca um papel coercivo ou de impedimento da sua liberdade de atuação, que está, aliás, constitucionalmente consagrada. Ora este ato informativo por parte das cooperativas, perante a CASES, é relevante na medida em que complementa os dados da já referida Conta Satélite.

As cooperativas não dependem do Estado, que regula, mas não tutela. Não há financiamento público destinado ao seu funcionamento. Como sabemos, as cooperativas são um modelo ao mesmo tempo de associação e empresa, dependendo em simultâneo, das pessoas que as criam e do mercado. O modelo cooperativo mantém-se fiel, com seus princípios e valores, no essencial, desde o século XIX. Mas carece de modernização e o Estado, assim como as entidades reguladoras, nas quais se inclui o Banco de Portugal, no respeito pela autonomia integral das cooperativas, não se podem ausentar de criar condições para o seu desenvolvimento, promovendo-as e apoiando-as.

Lembremos que o crédito agrícola desempenha um papel muito relevante no desenvolvimento económico local e na coesão territorial em Portugal: o Grupo Crédito Agrícola não só resistiu melhor à crise financeira do que a restante banca portuguesa, mas também continuou a desempenhar um papel central na prestação de serviços bancários em territórios do interior onde outros bancos se retiraram, incluindo o banco público.

Teremos oportunidades, no decurso deste Ano Internacional das Cooperativas, de aprofundar estes temas e outros que sabemos muito preocuparem o setor. Tendo finalizado, por estes dias, a leitura da autobiografia do Papa Francisco, intitulada “Esperança”, deixo-vos uma citação, retirada dos Evangelhos, que nela consta e que bem se apropria ao movimento cooperativo: “O melhor vinho está ainda por servir”.