Dar nova vida ao que, aparentemente, nos parece inaproveitável é, bem vistas as coisas, o futuro a reiventar-se. O projecto LignoBeauty vem transformar a mais abundante macromolécula aromática da floresta (conhecida por lenhina ou lignina) – neste caso proveniente de resíduos industriais – num ingrediente multifuncional ao serviço da coméstica sustentável. Palavras que resumem, com o perfume de nota breve, o vencedor do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola 2024, na categoria “Valorização dos recursos endógenos”.

“Com propriedades estabilizantes, antioxidantes e de protecção solar, a lenhina é um ingrediente capaz de substituir componentes sintéticos e de origem fóssil, e o seu potencial inovador é tão grande que tem tudo para ser explorado noutros sectores industriais”, argumenta Giovana Colucci, investigadora responsável e cuja tese de doutoramento em Engenharia Química e Biológica está, justamente, na origem do projecto LignoBeauty.

Desenvolvida no Centro de Investigação de Montanha (CIMO) do Instituto Politécnico de Bragança, em parceria com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), a referida tese, em fase de conclusão, decorre sob a orientação da Professora Filomena Barreiro, do CIMO, e coorientação do Professor Alírio Egídio Rodrigues, da FEUP.

“A ideia do projecto”, explica a jovem investigadora, “surgiu-me em 2020, ao perceber as possibilidades que se abriam ao combinar dois temas já explorados no grupo da Prof.ª Filomena: a valorização da lenhina em bioprodutos e o desenvolvimento de emulsões sustentáveis”. Em boa hora Giovana decidiu avançar, tanto mais que a ideia inovadora de estudar o “uso de lenhinas provenientes de resíduos industriais para criar emulsões sustentáveis voltadas para a área cosmética” seria prontamente acolhida pelos seus orientadores.

O projecto, também ele em fase conclusiva, explorou o desenvolvimento de um processo transformador de lenhinas industriais em ingredientes multifuncionais. Giovana faz notar que esse processo foi “optimizado para se adaptar a lenhinas de diferentes origens, com os ingredientes daí resultantes a serem incorporados em cremes cosméticos básicos, visando avaliar a sua capacidade de estabilizar formulações”. Os resultados, manifestamente de sinal mais, falam por si: “o novo ingrediente pode ser directamente incorporado em formulações cosméticas mais sustentáveis, superando barreiras de aplicação e valorizando a lenhina industrial em produtos de elevado valor acrescentado”.

Neste tempo derradeiro, último ano do doutoramento de Giovana, a pesquisa está agora focada na “validação do desempenho e da segurança dos cremes desenvolvidos, analisando as propriedades que a lenhina confere às formulações”. Próximo passo: avançar para o desenvolvimento de protótipos comerciais e avaliação de mercado. “Paralelamente”, revela Giovana, “estamos a trabalhar para estabelecer as bases necessárias à constituição de uma start-up”.

Do ponto de vista do impacto positivo do LignoBeauty, são altas as expectativas em relação ao acolhimento do projecto pelo universo de empresas e marcas de cosmética com perfil ‘bio’. “Acreditamos que os produtos à base de lenhina em desenvolvimento possuem elevado potencial de aceitação no mercado de produtos sustentáveis, especialmente perante a adesão ao conceito Clean Beauty - consumidores que procuram cosméticos formulados com ingredientes orgânicos e naturais, eficazes e seguros para a saúde e o meio ambiente”, defende a jovem investigadora.

Entretanto, o reconhecimento do Crédito Agrícola, através do Prémio Inovação e Empreendedorismo 2024, tem tido um papel fundamental na divulgação da LignoBeauty.

“Desde então, vem crescendo o impacto mediático do projecto junto do público em geral, condição indispensável para darmos a conhecer o imenso potencial da lenhina e respectivas propriedades, facilitando a sua futura aceitação no mercado”. Além disso, Giovana frisa que “o prémio monetário é um importante apoio para a realização de testes de segurança e desenvolvimento dos protótipos cosméticos. Somos profundamente gratos ao Crédito Agrícola pela oportunidade e pela visibilidade proporcionada”. Obrigado nós e, já agora, o futuro!